SOBRE
O COLINA E DILMA ROUSSEFF
A primeira organização que encantou a adolescente Dilma Rousseff
foi a Política Operária – POLOP.
A POLOP teve origem no Partido Socialista Brasileiro, e foi
fundada em 1961. Seus militantes já agiam muito antes da Contra
Revolução de 1964. Em 12 de março de 1963, apoiou e orientou a subversão dos
sargentos em Brasília. Nessa rebelião, 600 militares, entre cabos,
sargentos e suboficiais da Marinha e da Aeronáutica, foram apoiados pelo
dirigente da POLOP, Juarez Guimarães de Brito, que se deslocou do Rio de
Janeiro para Brasília. A cidade foi ocupada pelos rebeldes. Dominada a
rebelião duas pessoas estavam mortas: o soldado Divino Dias dos Santos e o
motorista civil Francisco Moraes.
Ainda nessa época, a POLOP concitou o PCB, através de uma
"Carta Aberta", a romper com o reformismo e com o governo de João
Goulart.
Logo após, a Política Operária passou por uma
fase de muita polêmica quanto às linhas de ação a serem seguidas para
decidir o melhor método para implantação do comunismo no Brasil. Uma ala
defendia a formação de uma Assembléia Nacional Constituinte e outra
dava prioridade à luta armada.
Dilma e a luta armada
Peter Rousév era um advogado russo, filiado ao Partido
Comunista Búlgaro, que, no Brasil, mudou seu nome para Pedro Rousseff e
fixou-se em Belo Horizonte, onde ganhou dinheiro com obras na
Siderúrgica Mannesmann. Em Minas casou e teve três filhos: Dilma
e dois irmãos que tinham uma vida de família de classe média alta, eram
atendidos por três empregadas e moravam em uma casa
espaçosa. Dilma estudou no Sion , colégio de classe média
alta.
Em 1965, com 17 anos, matriculou-se na Escola Estadual
Central, um centro de agitação do movimento estudantil secundarista, e
começou sua doutrinação. Dois anos depois militava na POLOP,
influenciada, entre outros movimentos, pelo livro que incendiou o mundo -
Revolução da Revolução, de Régis Debray, que difundia a teoria do
foquismo" (a guerrilha de pequenos grupos - os focos), para
expropriar e terminar com a burguesia.
Em abril de 1968, os militantes da POLOP, de
Minas Gerais e da Guanabara, e do Movimento Nacional Revolucionário - MNR -
de Brizola se reuniram e entabularam negociações para a criação de uma
nova organização político militar. Ao mesmo tempo, o pessoal da
POLOP/GB realizou uma Conferência, na qual foi aprovado o documento "Concepção da Luta Revolucionária", onde ficou praticamente aprovada a linha política da futura Organização Político Militar - OPM. O documento definiu a revolução brasileira como sendo de caráter
socialista e o caminho a seguir o da luta armada, através do foco
guerrilheiro, visto como "a única forma que poderá assumir, agora, a
luta armada revolucionária do povo brasileiro". Dilma, aos 20 anos,
inclinou-se para a luta armada e juntou-se ao grupo que optou pela
violência.
O processo para a tomada do poder
iniciar-se-ia com a criação de um pequeno núcleo rural: o foco, que, através
do desencadeamento da luta armada no campo, cresceria e se multiplicaria com
a conscientização das massas, até a constituição de um Exército Popular de Libertação. As cidades eram vistas como fontes para o
apoio logístico e a guerrilha urbana nelas desencadeadas serviria para manter
ocupadas as forças legais. Os atos de terrorismo e sabotagem deveriam
obedecer a um rígido critério político, estabelecido pelo comando da OPM.
Criação do Comando de Libertação Nacional -
COLINA
Em julho de 1968, esses dissidentes da POLOP
realizaram um Congresso Nacional num sítio em Contagem, Minas Gerais no qual
foi criado o Comando de Libertação Nacional – COLINA -, com o seu Comando
Nacional – CN - integrado por Ângelo Pezzuti da Silva e Carlos Alberto Soares
de Freitas, em Minas Gerais, e Juarez Guimaraes de Brito e Maria do Carmo
Brito, na Guanabara.
Diretamente ligado ao Comando Nacional - CN
-, foi criado:
Setor Estratégico, subdividido em:
a- Comando Urbano - constituído
pelo Setor Operário e Estudantil. Esse setor era o responsável pelo trabalho de massa nas
fábricas, empresas, sindicatos, faculdades, etc. Esse trabalho era executado
pelas células, por meio das atividades de recrutamento e de agitação e
propaganda. O setor editava o jornal "O Piquete".
b- Comando militar - composto
pelos Setores de Levantamento de Áreas; Inteligência; Expropriação;
Terrorismo e Sabotagem; e Logistico.
A partir de setembro
de 1968 o Setor de Levantamento de Áreas deu início a uma série de viagens
pelo interior do país, a fim de selecionar as regiões mais favoráveis à
instalação de guerrilhas. Após estudar mais de sete estados, o COLINA decidiu-se,
em junho do ano seguinte, por uma região de mais de 100 mil km2, englobando
diversos municípios do Maranhão e de Goiás - Imperatriz, Porto Franco, Barra
do Corda e Tocantinópolis.
Dilma Rousseff e Comando de Libertação Nacional – COLINA
Os dissidentes que optaram pela luta
armada reuniram-se em torno da nova organização. Entre esses dissidentes
estava Dilma. Continuando
sua capacitação política, um dos seus doutrinadores foi Apolo Heringer
Lisboa, dirigente do Colina. Ele lhe ministrara aulas de marxismo, quando
Dilma ainda era secundarista. No meio subversivo conheceu o
jornalista mineiro Cláudio Galeno de Magalhães Linhares, que também optara
pela luta armada. Galeno serviu ao Exército por três anos e também militou na POLOP. Atuou
ativamente na sublevação dos marinheiros. Esteve preso por cinco
meses na Ilha das Cobras, durante a Contra Revolução. Depois disso,
obteve Habeas Corpus, foi solto e voltou a Belo Horizonte, onde foi
trabalhar no jornal Ultima Hora, tendo como chefe Guido Rocha, um dos
principais líderes da POLOP, que Galeno conhecera quando ambos estiveram
presos.
Dilma e Galeno casaram-se um ano depois. Firmava-se a Dilma
guerrilheira, correndo da polícia, fazendo passeata para apoiar os
operários em greve em Contagem e enfrentando a polícia.
A dupla prometia. Galeno, em entrevista à revista Piauí,
declarou que aprendera a fabricar bombas na farmácia de seu pai. Ela
tinha tarefas específicas no COLINA: a confecção do Jornal O Piquete, a
preparação das aulas de marxismo, absorvidas na doutrinação do
dirigente do COLINA, Apolo Hering. Tinha também aulas sobre armamentos,
tiro ao alvo e explosivos. Grande parte dessas aulas era ministrada nos
arredores de Belo Horizonte pelo ex-sargento da Aeronáutica João Lucas
Alves.
Além de dar instruções de técnicas de guerrilha à Dilma, Galeno,
em entrevista à Revista Piauí, demonstra mais que uma relação de
militância com João Lucas Alves. Demonstra que era seu apoio
logístico, quando declara: "O João Lucas ficava hospedado em
nossa casa".
João Lucas Alves foi um dos executores do major do exército
alemão Edward Ernest Tito Otto Maximilian von Westernhagen, em 01/07/68. O
crime ficou sem autoria declarada a até bem poucos anos. Foi preciso
Jacob Gorender, também militante da luta armada – PCBR - , em seu livro
Combate nas Trevas, publicar um segredo guardado a sete chaves: a
organização responsável por este assassinato foi o COLINA , e o nome de
dois dos três autores do crime.
Dilma e Galeno viviam perigosamente, rodeados de gente
que, como eles, não pretendia, como motivação principal, derrubar o governo
militar, mas instalar um regime marxista-leninista, como pregavam os
estatutos da organização na qual militavam ativamente. Seu apartamento
era visitado pela cúpula do COLINA. Derrubar o regime militar era o
pretexto para atrair militantes para a causa principal - instalar uma
ditadura nos moldes de Cuba -, que, para ser melhor aceita, era
rotulada de regime socialista. Para isso, faziam treinamentos práticos e de
capacitação política.
Embora o COLINA tivesse conseguido recrutar adeptos em Porto
Alegre, Goiânia e Brasília, nunca deixou de ser uma organização política
militar tipicamente mineira, com um núcleo na Guanabara – RJ -, onde havia
recrutado um grupo de ex-militares. De acordo com Jacob
Gorender, autor do livro "Combate nas trevas", o COLINA já
aderira à luta armada em 1968 e pregava a prática do terrorismo.
Dentre as ações do COLINA , em 1968, podem ser destacadas:
- Em 28 de agosto, assalto ao Banco Comércio e Indústria de
Minas Gerais, agência Pedro II , em Belo Horizonte;
- Em 4 de outubro, assalto ao Banco do Brasil, na cidade
industrial de Contagem, em MG;
- Em 18 de outubro, dois atentados a bomba em Belo Horizonte,
nas residências do Delegado Regional do Trabalho e do Interventor dos
Sindicatos dos Bancários e dos Metalúrgicos;
- Em 25 de outubro, no Rio de Janeiro, Fausto Machado
Freire e Murilo Pinto da Silva assassinaram Wenceslau Ramalho Leite, com
quatro tiros de pistola Luger 9mm, quando lhe roubaram o carro; e
- Em 29 de outubro, assalto ao Banco Ultramarino, agência de
Copacabana, no Rio de Janeiro.
A Organização de Dilma tinha algumas armas, algum dinheiro e algumas
dezenas de militantes dispostos a tudo.
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